Roger Ycaza nasceu em Ambato, uma pequena cidade no centro da serra equatoriana, em 1977, mas mora há muitos anos na capital Quito. É ilustrador premiado, músico com passagem por diversas bandas (atualmente na Fraleijones) e escritor de suas próprias histórias, já publicadas em mais de 15 países. No entanto, prefere se descrever mais resumidamente: um apaixonado por cinema, comida e café - e também por criar imagens de obras como Tanta Chuva no Céu (Editora do Brasil, 2020, 40 páginas).
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O livro de estreia de Volnei Canônica também marca o primeiro trabalho de Ycaza no mercado brasileiro. Em bate-papo com o Blog do Instituto Quindim, por e-mail, o artista equatoriano falou sobre os desafios de ilustrar um livro infantil que traz uma temática tão sensível para os dias pandêmicos de hoje, como as perdas de pessoas queridas.
O ilustrador também contou os detalhes de seu processo criativo, como a escolha pelas ilustrações em acrílico e a paleta de cores quentes como contraste à atmosfera nostálgica, além de discorrer sobre as reflexões que Tanta Chuva no Céu provoca nos leitores. Confira:
BLOG DO QUINDIM: Quais os desafios de ilustrar um livro infantil que aborda uma temática tão delicada como as perdas?
ROGER YCAZA: Fazer um novo livro, de qualquer temática, será sempre um desafio, e muito mais se estivermos falando de temas delicados, sejam eles perdas, separações, sexualidade, etc. No caso de Tanta Chuva no Céu, o desafio foi grande, não só o que a história de Volnei já me propunha, mas também meu desafio pessoal como coautor. Como abordar visualmente esse tema? Como contar a história a partir da minha visão? Como encontrar novas leituras? Tudo isso, e muito mais, foram perguntas que me fiz durante o processo de trabalho. Tentei me colocar no lugar da personagem central, e com muito cuidado e respeito, tentei ver e sentir o que ela sentia, dessa forma tentei transmitir em imagens essas sensações, esses espaços, esse vazio.
No texto de apresentação, o ilustrador Roger Mello diz que Tanta chuva no céu é “uma dança entre palavra e imagem”. Como foi a parceria com Volnei Canônica no processo criativo?
Recebo com muito carinho as palavras do meu xará, Roger Mello, a quem admiro muito, assim como admiro o trabalho que Volnei faz. Por isso, quando Gilsandro e Paulo, da Editora do Brasil, me contataram para fazer parte do livro, não hesitei em aceitar, antes mesmo de ler a história eu já sabia que queria fazer parte dela e, claro, quando consegui ler, apenas confirmei o que já sentia e queria fazer.
Não tive muitas conversas com Volnei (a respeito do livro), ambos confiamos na visão um do outro e por isso deixamos que os editores fossem a ponte entre nós, e bem, assim deve ser. Eles foram juntando as nossas vozes, dando-nos sua opinião, ajudando-nos a conectar da melhor forma essa “dança”, mencionada pelo Roger, entre palavra e imagem. Foi um processo muito orgânico, nunca houve discussões ou pontos de vista diferentes, tudo aconteceu de forma natural e fluida.
Na obra, você utiliza quatro cores, em acrílico e pincel seco. Como se deu a escolha dessa técnica e dessa paleta de cores para contar a história?
Sempre soube que queria trabalhar as ilustrações em acrílico, é um material que gosto e que uso muito. A textura que se consegue, o sentimento artístico, os tons na mistura de cores, o seu calor... mesmo assim não quis me fechar àquela primeira visão e fiz vários testes, uns digitais, outros a tinta, outros misturados, e depois de ter feito isso comecei a ler a história novamente, observando as palavras ao lado das imagens, e assim pude ver qual técnica estava mais próxima do que queria transmitir. O acrílico definitivamente alcançou essa intenção de uma maneira melhor.
Depois veio a questão da cor, onde, tendo escolhido o material, fiz mais testes. A história apresenta-nos uma atmosfera nostálgica, de quebrantamento, por isso em contraste com aquilo procurei tons quentes, onde se reflete que ainda há calor, que nem tudo se perdeu. Daí os tons de laranja, ocre e terra que cobrem praticamente todo o livro e se contrapõem ao azul intenso, que chega para curar as feridas.
A temática da falta está presente visualmente na escada, nos brinquedos, no vestido da mãe, na chuva. Que reflexões Tanta chuva no céu deixa para os leitores?
Creio que a principal mensagem que a leitura deste livro nos deixa é a esperança. É verdade que se trata de um tema delicado, em momentos difíceis, que se reflete nos cômodos da casa, nas roupas, em cada lembrança, mas o que Tanta Chuva no Céu realmente quer nos transmitir é que sempre podem chegar dias novos e melhores, se nós assim os quisermos.
Esse foi seu primeiro livro lançado no Brasil. O público brasileiro pode esperar novas histórias num futuro próximo?
Fico feliz que este livro seja minha porta de entrada para o Brasil, um país que admiro muito e onde se encontram amigos muito queridos. Espero poder continuar publicando aí, sejam histórias que acompanho com as minhas imagens, ou as minhas próprias histórias.
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